Brasil atualiza inventário de emissões do transporte rodoviário em 2024

O governo federal divulgou, em 2 de dezembro de 2025, o Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários com dados atualizados até o ano-base 2024. Essa atualização, realizada após uma década, traz informações essenciais sobre a poluição atmosférica e as emissões de gases relacionadas ao transporte rodoviário no Brasil. O estudo, elaborado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) em parceria com os Ministérios dos Transportes e do Meio Ambiente, além do apoio da Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC), orienta políticas públicas para melhorar a qualidade do ar e promover um sistema de mobilidade rodoviária mais limpo e eficiente.

Impactos das emissões no transporte rodoviário e avanços tecnológicos

Ao longo de quase 40 anos desde a implantação do Proconve, o país registrou queda significativa em diversos poluentes associados à combustão veicular, principalmente a partir dos anos 2000. No entanto, o crescimento contínuo da frota e o aumento da intensidade de uso dos veículos impediram a redução geral das emissões no transporte rodoviário. Um destaque importante do inventário é a mudança no perfil do material particulado (MP). Embora as emissões provenientes da combustão tenham diminuído, as emissões causadas pelo desgaste de pneus, freios e pavimentos aumentaram, representando hoje cerca de metade do total desse poluente no setor.

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  • Emissões de carbono e poluentes no transporte rodoviário

    O estudo revela que as emissões de dióxido de carbono equivalente (CO₂eq) cresceram aproximadamente 8% entre 2012 e 2024, acompanhando o aumento da frota nacional. Em 2024, automóveis responderam por 34% das emissões de CO₂eq, enquanto caminhões semipesados contribuíram com 22%. O CO₂ representou 97% do total das emissões do transporte rodoviário. Pela primeira vez, o inventário incluiu estimativas de carbono negro (black carbon), um poluente climático de vida curta com impactos relevantes à saúde humana.

    Além disso, o documento detalha a evolução de outros poluentes importantes no setor: o monóxido de carbono (CO) caiu de 5,5 milhões para 1 milhão de toneladas desde 1991; os óxidos de nitrogênio (NOx) reduziram significativamente desde o fim dos anos 1990, com o diesel respondendo por 87% das emissões; o material particulado de combustão caiu para menos de 18 mil toneladas em 2024, mas o total sobe para 38 mil toneladas ao incluir o desgaste; o carbono negro atingiu cerca de 8 mil toneladas por combustão, com aumento das emissões por desgaste; o metano (CH₄) apresenta queda contínua desde os anos 1990, com automóveis representando 45% das emissões; o NMHC teve forte redução e estabilização recente; o N₂O mostra tendência de aumento associada à renovação tecnológica da frota; e o CO₂ totalizou 270 milhões de toneladas emitidas em 2024, com automóveis e caminhões respondendo por 42% e 40%, respectivamente.

    Evolução da frota e desafios para o transporte rodoviário sustentável

    A frota brasileira ultrapassou 71 milhões de veículos em 2024, sendo 63% automóveis, 25% motocicletas e 9% comerciais leves. A frota pesada, composta por caminhões e ônibus, chegou a 2,5 milhões de unidades. O crescimento da frota e o uso intenso dos veículos dificultam a redução das emissões no transporte rodoviário, mesmo com avanços tecnológicos.

    O inventário reforça a necessidade de aprimorar as bases de dados nacionais, incluindo fatores de emissão, deterioração e informações de licenciamento, para aumentar a precisão das estimativas. Oficinas técnicas e ampla participação de especialistas contribuíram para a atualização, que cobre o período de 1980 a 2024.

    Políticas públicas e o futuro do transporte rodoviário no Brasil

    O documento serve como base técnica para acelerar a transição para uma matriz de transporte rodoviário de baixo carbono. Entre as estratégias destacam-se a ampliação do uso de biocombustíveis avançados, a promoção da eletrificação sustentável e o planejamento logístico para reduzir quilômetros rodados vazios, aumentando a eficiência energética.

    Cloves Benevides, subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, destaca o compromisso em transformar os dados em ações governamentais que garantam mobilidade sustentável, redução das emissões de gases de efeito estufa e melhoria da qualidade do ar nas cidades brasileiras. Adalberto Maluf, secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano do MMA, ressalta que o inventário representa um passo decisivo para consolidar políticas públicas orientadas por evidências, qualificando a gestão ambiental e apoiando a transição para um sistema de transporte rodoviário mais limpo e sustentável.

    O inventário também atende às diretrizes da Política Nacional de Qualidade do Ar e apoia estados na atualização de seus inventários, condição necessária para acessar recursos da União, conforme explica David Tsai, gerente de projetos do IEMA.

    Conclusão

    A atualização do inventário nacional de emissões do transporte rodoviário apresenta dados fundamentais para enfrentar os desafios ambientais do setor. Apesar dos avanços tecnológicos, o crescimento da frota e o aumento do uso dos veículos mantêm as emissões em alta. Políticas públicas baseadas em evidências, aliadas a estratégias de baixo carbono, podem promover um transporte rodoviário mais sustentável, reduzindo impactos ambientais e melhorando a qualidade do ar nas cidades brasileiras.

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